Sabemos sem nenhuma dúvida que no espírito humano há, por inclinação natural, certo senso da Divindade. Para que não nos refugiemos na alegação de ignorância, o Senhor nos dotou de certa percepção da Sua majestade. Assim, tendo todos entendido que há um Deus, que é o seu Criador, serão condenados por seu próprio testemunho aqueles que não O glorificarem e não dedicarem sua vida a fazer a Sua vontade. Certo é que, se se buscar entre os homens ignorância tal que Deus seja absolutamente desconhecido, com toda a probabilidade exemplos disso serão encontrados somente entre os povos mais rudes e mais distanciados das boas condições de civilidade e de humanidade.
Ora, como os próprios pagãos confessam, não existe nação tão bárbara, nenhum povo tão selvagem que não tenha impressa no coração a existência de algum Deus. E, por outro lado, aqueles que parecem não diferir quase nada dos animais irracionais, não obstante sempre conservam uma semente da religião, de tal modo esta concepção universal arraigou-se em todos os espíritos e se fixou em todos os corações.
Portanto, visto que desde o princípio do mundo não há região nem cidade nem mesmo casa alguma que não tenha nada de religião, nesse fato nós temos uma confissão tácita de que há um senso da Divindade gravado no coração de todos os seres humanos.
Até a idolatria nos serve de grande argumento em favor desta idéia. Porque sabemos quanto o homem se tem humilhado, contra si mesmo, e em seu detrimento tem prestado honra a outras criaturas. Pois lhe parece melhor cultuar a madeira e a pedra do que ter fama de que não tem nenhum deus, o que mostra quão forte é este sentimento nele impresso da Majestade divina, impressão de tal modo difícil de apagar do espírito humano que seria mais fácil eliminar os seus afetos naturais. Como certamente estes são eliminados quando, da sua elevação e da sua presunção, o homem se rebaixa voluntariamente e se coloca abaixo das
criaturas menos nobres da terra a fim de prestar honra a Deus. Porque é emitir falsa opinião dizer, com alguns, que antigamente a religião foi inventada por uns poucos com o fim de manter modesto e dócil o povo simples, quando os que incitavam os outros a servir a Deus nem pensavam na existência de algum deus. Bem sei que entre os pagãos houve homens astutos e engenhosos que forjaram muitas coisas de caráter religioso para impor medo aos simples e gerar escrúpulos. Sua finalidade era tê-los mais obedientes e mais dóceis ao comando. Mas essa idéia jamais lhes teria ocorrido se anteriormente já o espírito dos homens
não estivesse firmemente resolvido a crer em Deus. Daí procede toda a inclinação dos homens para a fé religiosa. E não é preciso pensar que aqueles que, em nome da religião, enganavam as pessoas mais simples, estivessem inteiramente vazios e despidos da idéia de que Deus existe. Porque, apesar de que na antigüidade houve alguns, e hoje em dia há muitos, que negam totalmente a existência de Deus, todavia, querendo-o ou não, por vezes sentem aquilo que gostariam de ignorar.
4º Tese de Lutero - Por conseqüência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus.
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