quarta-feira, 23 de março de 2011

Conhecer o homem depende de conhecer a Deus


Por outro lado, é notório que o homem jamais pode ter claro conhecimento de si mesmo, se primeiramente não contemplar a face do Senhor, e então descer para examinar a si mesmo. Porque esta arrogância está arraigada em todos nós – sempre nos julgamos justos, verdadeiros, sábios e santos, a não ser que, havendo sinais evidentes, sejamos convencidos de que somos injustos, falsos, insensatos e impuros. Mas não seremos convencidos se só dermos atenção a nós mesmos, e não também ao Senhor, pois esta é a regra única à qual é necessário que se ajuste o julgamento que se queira fazer. Isso porque, uma vez que nós somos naturalmente inclinados à hipocrisia, em vez de contentar-nos com a verdade, ficamos muito satisfeitos com uma vã aparência de justiça. E, tendo em vista que não há nada em nós que não esteja gravemente contaminado por grosseira impureza, o que nos parece um pouco menos vil aceitamos como elevada pureza, enquanto mantemos o nosso espírito dentro dos limites da nossa condição humana, que é totalmente corrupta. É o que acontece com olhos só acostumados a verem a cor negra; uma brancura um tanto obscura ou mesmo acinzentada é, para esses olhos, a mais alva brancura. Todavia, menos se pode compreender as qualidades da
alma e mais enganados seremos nessa compreensão, comparando-a com a nossa visão física. No entanto, quando em pleno dia olhamos para o solo ou para as coisas que estão ao nosso redor, achamos que a nossa visão é clara e firme. Mas quando elevamos o nosso olhar diretamente para o sol, somos constrangidos a confessar que a excelente visão que tínhamos quando olhávamos a terra fica confusa, ofuscada pelo fulgor do sol.
É o que acontece quando avaliamos os nossos poderes espirituais. Porque, enquanto a nossa contemplação não vai além da terra, ficamos satisfeitos com a nossa justiça própria, com a nossa sabedoria e com a nossa capacidade ou poder, e nos gratificamos e nos elogiamos a nós mesmos, pouco faltando para que nos consideremos semideuses. Mas se, uma vez que seja, pensarmos no Senhor e virmos a perfeição da Sua justiça, da Sua sabedoria e do Seu poder, a cujo modelo devemos ajustar-nos, o que antes nos agradava parecendo justiça, logo veremos que não passa de uma grande iniqüidade, o que nos impressionava maravilhosamente sob o título de sabedoria se revelará como loucura extrema, e o que tinha a aparência de capacidade ou poder se mostrará miserável fraqueza. Assim, o que em nós tem a aparência de absoluta perfeição, nem de longe se assemelha à pureza de Deus.

2º Tese de Lutero - Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental, isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes.

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