quarta-feira, 23 de março de 2011

A sabedoria integral está no conhecimento de Deus e do homem


A soma total da nossa sabedoria, a que merece o nome de sabedoria verdadeira e certa, abrange estas duas partes: o conhecimento que se pode ter de Deus, e o de nós mesmos.
Quanto ao primeiro, deve-se mostrar, não somente que há um só Deus, a quem é necessário que todos prestem honra e adorem, mas também que Ele é a fonte de toda verdade, sabedoria, bondade, justiça, juízo, misericórdia, poder e santidade, para que dele aprendamos a ouvir e a esperar todas as coisas. Deve-se, pois, reconhecer, com louvor e ação de graças, que tudo dele procede.
Quanto ao segundo, revela a nossa ignorância, miséria e maldade, induz-nos à humildade, à não confiança própria e ao desprezo de nós mesmos; inflama em nós o desejo de buscar a Deus, certos de que nele repousa todo o nosso bem, do qual nos vemos vazios e desnudos.
Ora, não é fácil discernir qual dos dois precede o outro e o produz. Porque, visto que o homem está repleto de qualidades indignas, mal nos contemplamos e tomamos conhecimento das nossas péssimas condições, e de imediato elevamos os olhos a Deus para que dele venha um pouco de conhecimento a Seu respeito. Assim, graças ao sentimento que temos da nossa pequenez, da nossa insensatez e vaidade, e mesmo da nossa perversidade e corrupção, reconhecemos que a verdadeira grandeza, sabedoria, verdade, justiça e pureza estão em Deus.
Finalmente, somos impedidos por nossas maldades e fraquezas de considerar os bens do Senhor, e não podemos sequer aspirar com amoroso empenho aos bens divinos, enquanto não começarmos a ficar aborrecidos com nós mesmos. Pois, qual dos homens não descansa em si mesmo e em si mesmo não tem prazer? Quem não descansa desse modo e durante todo o tempo em que, não se conhecendo bem, mostra-se satisfeito com as suas capacidades e ignora as suas miseráveis condições? Porquanto, cada um de nós não somente é instigado pelo
conhecimento de si próprio a buscar a Deus, mas é como que levado pela mão ao Seu encontro.

1º Tese de Lutero - Ao dizer: "Fazei penitência", etc.  [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência.

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