sexta-feira, 29 de abril de 2011

Revelação que nos Deixa sem Defesa

 
Eis porque em vão resplendem tantas luzes no edifício do universo para manifestação da gloria do Criador. Tal é o brilho que sobre nós seus raios lançam! E, apesar disso, essas luzes não nos podem conduzir pelo reto caminho. É bem verdade que nos enviam certas centelhas, mas estas se apagam antes de tornar-se plena luz. Por isso o apóstolo, na mesma passagem na qual afirma que os mundos são figuras das coisas invisíveis, logo a seguir declara que é pela fé que o mundo foi construído pela Palavra de Deus. Com isso ele quer dizer que a Divindade invisível é representada pela figura do mundo, mas que os nossos olhos são incapazes de observá-la, a não ser que sejam iluminados interiormente pela revelação de Deus.
Mesmo onde o apóstolo Paulo ensina que o que se deve conhecer de Deus é revelado na criação do mundo, ele não se refere a uma revelação que o entendimento humano possa compreender; antes, ele dá a entender que essa revelação não faz mais que nos tornar inescusáveis. Embora em certa passagem o mesmo apóstolo ensine que não é preciso distanciar-nos para buscar a Deus, porque Ele “não está longe de cada um de nós, noutra passagem nos ensina a importância desta proximidade, dizendo que Deus, “nas gerações passadas, permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos; contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria”. Vê-se, pois, que, embora não sendo desprovido de testemunhos pelos quais generosa e brandamente Deus convida os homens a que O conheçam, eles, entretanto, não deixam de seguir os seus próprios caminhos – isto é, seus erros, que só merecem condenação.
Sendo, porém, que nos falta a capacidade natural para obtermos o puro e claro conhecimento de Deus, todavia, visto que a causa dessa ignorância está em nós, não temos desculpa. A verdade é que não nos adianta alegar ignorância, porque nós mesmos sempre nos persuadimos da nossa negligência e da nossa ingratidão. E certamente será uma pobre e indigna defesa o homem dizer que não tem ouvidos para ouvir a verdade, quando as próprias criaturas destituídas de voz a proclamam alto e bom som! Também não pode alegar que não tem olhos para ver o que muitas criaturas sem olhos mostram! Inútil será ainda defender-se dizendo que a sua mente é incapaz de entender a verdade, quando todas as criaturas irracionais a ensinam!
Portanto, não temos desculpa por andarmos extraviados e perdidos, pois todas as coisas nos mostram o caminho certo. Contudo, ainda que essa ignorância deva ser atribuída aos homens que, em sua maldade, corrompem logo a semente do conhecimento de Deus semeada em seu entendimento pelas admiráveis obras de Deus na natureza, impedindo-a de dar bom fruto, a verdade é que não somos suficientemente habilitados pelo simples e nu testemunho que as criaturas dão da grandeza de Deus. Sim, porque, tão logo experimentamos um pouco da Divindade pela contemplação do universo, em seguida abandonamos o Deus verdadeiro e em Seu lugar erigimos os sonhos e as imaginações do nosso cérebro, como também usurpamos o louvor da justiça, da sabedoria e do poder de Deus. Acresce que, de tal maneira obscurecemos as Suas realizações diárias e as invertemos com o nosso mau julgamento, que até tomamos para nós o louvor devido ao seu Autor.

17º Tese de Lutero - Parece desnecessário, para as almas no purgatório, que o horror diminua na medida em que cresce o amor.

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