Com relação ao que eles nos perguntam: Como nos convenceremos de que a Escritura provém de Deus, se não recorrermos ao decreto da igreja? Fazer essa pergunta é como se alguém nos perguntasse como aprendemos a distinguir entre a luz e as trevas, entre o preto e o branco, entre o amargo e o doce. Porque a Escritura não nos mostra menos evidência da sua verdade do que os objetos pretos ou brancos nos mostram de suas cores, e as coisas doces ou amargas nos mostram do seu sabor.
Se, pois, quisermos firmar a nossa consciência de modo que não permaneça agitada e em perpétua dúvida, é preciso que coloquemos a autoridade da Escritura muito acima das razões ou das circunstâncias ou das conjeturas humanas; quer dizer, é preciso que a estabeleçamos com base no testemunho do Espírito Santo. Porque, ainda que, por sua própria majestade, a Escritura nos leve a respeitá-la, não obstante, verdadeiramente só começa a tocar-nos quando é selada em nosso coração pelo Espírito Santo. Iluminados, pois, pelo poder do Espírito Santo, não é mais baseados em nossa avaliação e na de outros que nós cremos que a Escritura é a Palavra de Deus. É graças à certeza dada por uma autoridade superior que concluímos que, sem dúvida nenhuma, a Escritura nos foi outorgada diretamente por Deus – a tal ponto, que é como se nela contemplássemos a sublimidade de Deus em Seu Ser essencial.
Não andamos em busca de argumentos ou de elementos que apontem para probabilidades, para nessas coisas basearmos a nossa decisão, mas, sim, submetemos o nosso juízo e o nosso entendimento a Ele, e o fazemos com a convicção de quem não precisa sujeitar-se a nenhum outro julgamento. E chegamos a esta certeza, não como alguns que costumam acatar precipitadamente uma coisa desconhecida para sua posterior decepção, mas porque estamos muitíssimo seguros de que na Escritura temos a verdade imbatível. Tampouco o fazemos como fazem alguns ignorantes, habituados a sujeitar sua mente à escravidão das superstições. Agimos como agimos porque sentimos que na Escritura reside e se manifesta o poder de Deus, que nos atrai e nos impulsiona à obediência ardorosa, consciente e voluntária, e, ainda mais, com eficácia maior que a acaso produzida pela humana vontade ou pelo saber humano. Vê-se, pois, que a nossa convicção não requer razões, uma vez que se apóia numa excelente razão. Isto é, a nossa mente está mais firme e mais segura do que se estivesse baseada em razões, fossem quais fossem.
Finalmente, o que sentimos é de tal natureza que só pode ter sido gerado por revelação celestial. O que estou dizendo não é outra coisa senão o que cada cristão fiel experimenta pessoalmente (reconhecendo, porém, que as palavras são muito inferiores à dignidade do argumento e não são suficientes para explicar bem o tema).
22º Tese de Lutero - Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.
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